O Ogham é um alfabeto de origem
celta que, tal qual as Runas para os nórdicos, também tem seu valor como
oráculo, sendo uma ferramenta espiritual tanto de bardos como de druidas.
Sua origem mitológica é atribuída
ao deus irlandês Ogma (Ogmios, para os gauleses), campeão dos Tuatha De Danann,
uma raça de deuses gerados pela deusa Danu. Todos os Tuatha De Danann, de modo
geral, eram reconhecidos pela sua eloqüência e interesse pelas artes, em
especial, a poesia. Ogma tem destaque entre eles em função de seu talento e de
histórias paralelas de grandes feitos, embora muitos acreditem, hoje, que parte
(ou grande parte) deles tenham sido realizadas por heróis anônimos.
Na iconografia celta Ogma é
comparado ao Hércules grego ao invés de Hermes – divindade grega da
comunicação. Isso se justifica porque os celtas acreditavam que a força de
Hércules não estava verdadeiramente nos seus atributos físicos, mas no seu
intelecto e no seu poder de persuasão. O resultado desta associação é que Ogma
é representado por um homem relativamente velho e forte carregando uma pesada
clave sobre o ombro – uma imagem tipicamente atribuída a Hércules.
A obra conhecida como The Book
of Ballymote, escrita no século 14 e principal fonte de informação sobre o
Ogham, não conta como Ogma criou este alfabeto, mas afirma que o seu objetivo
foi o de transmitir certos conhecimentos de forma codificada para que não
caíssem em domínio público.
A palavra galesa oghum,
por exemplo, é uma derivação de ogham e significa “conhecimento oculto”, o que
parece reforçar esta idéia de manter algo em segredo.
Do ponto de vista histórico, o
surgimento do ogham possui diversas correntes, algumas defendendo origens
célticas e outras defendendo origens pré-célticas. No Every Ogham thing on the Web você tem à sua
disposição uma relação enorme de sites a respeito do assunto, alguns com
centenas de fotos de monumentos espalhados em diferentes pontos da Europa com
este tipo de inscrição entalhada.
Os celtas
A palavra “celta” deriva do grego
keltoi, uma expressão usada – assim como o grego galatai e o romano
galli – para identificar os povos considerados “bárbaros” – mais
especificamente qualquer um que não fosse grego ou romano… ;)
Segundo consta, o povo celta
teria se instalado inicialmente (por volta de 400 a.C.) na região que hoje
equivale ao norte da Itália, chegando a dominar boa parte da Europa central e
Ilhas Britânicas até o final do século 3 a.C..
Os celtas eram exímios
guerreiros, metalúrgicos, agricultores, criadores de animais, construtores de
estradas e de carroças, mas, apesar do grande avanço cultural e tecnológico,
apresentavam uma estrutura política extremamente frágil, não chegando a
constituir em momento algum um império, de modo que, no século 1 a.C., exceto
pela Irlanda, Escócia e País de Gales, todos os outros domínios foram tomados
pela expansão romana e sucessivos ataques de tribos germânicas.
Nos dias atuais, entende-se por
“Mundo Celta” dois grupos distintos: os “Celtas Britânicos” (formado pelo País
de Gales, Bretanha e Cornualha) e os “Celtas Galeses” (formado pela Irlanda,
Escócia e Ilha de Man).
O Ogham
como escrita
As letras do Ogham são conhecidas
por fedha (fedha – plural; fid – singular) e formadas por traços simples
ao longo de uma linha guia chamada flesc. Uma fid por ter traços acima
ou abaixo da flesc; pode ainda atravessá-la de forma perpendicular ou obliqua.
As frases, de modo geral,
aparecem na vertical, escritas de cima para baixo. Quando colocadas na
horizontal, o sentido é da direita para a esquerda.
B – L – F – S – N / H – D – T – C – Q / M – G – Ng – St – R / A – O – U – E – I
Na ilustração acima identificamos
4 grupos distintos, denominados aicme: 5 caracteres apontam para cima (ou
direita, quando na vertical), 5 apontam para baixo (ou esquerda), 5 atravessam
a flesc na diagonal e 5 atravessam a flesc na perpendicular. Estes 20
caracteres fazem parte do que denominamos Ogham original, constituído de vogais
e consoantes.
Ea – Oi – Ui – Io – Ae
Em função do domínio romano e a
natural fusão cultural, um último aicme, denominado forfedha (“letras ou
árvores adicionais”) foi criado para representar os sons (especificamente
ditongos) que não estavam “cobertos” pela grafia anterior. Muitos estudiosos
não consideram este grupo como parte do Ogham, embora haja interpretações
divinatórias para cada fid “extra”.
Neste projeto o significado do
forfedha será ignorado.
Além do The Book of Ballymote,
dois outros livros servem de fundamento para muito do que se prega hoje a
respeito do Ogham: o primeiro chama-se Ogygia, de O’Flaherty, publicado
na Irlanda em 1793; o segundo, de Robert Graves, publicado em 1948, tem como
título The White Goddess.
É o trabalho de Graves que, de
certa forma, fez renascer o interesse de muitos grupos europeus pelo Ogham. Ele
também é o responsável pelo controvertido “calendário das árvores”, que será
visto mais adiante.